Por outro lado
Thursday 7 October 2010
Daria Werbowy fotografada por Michael Thompson
Existem aquelas pessoas que valem a pena, que nós adoramos de paixão, aquelas pessoas que nos fazem agradecer diariamente por fazerem parte do nosso círculo mais chegado de amizades, e que, como se não bastasse, ainda escrevem assim - como se nos lessem a alma.
Existem no mundo pessoas tão bonitas por dentro e por fora, que, no fundo, é por sabermos que essas pessoas existem que nos choca mais a maldade humana. Mas elas existem, as pessoas que carregam todos os dias consigo um coração doente, movido pela própria doença. Uma doença que embora não seja física, lhes consome e enfraquece o coração como se de uma morte lenta se tratasse. Essas pessoas, donas de corações dos quais os únicos batimentos cardíacos que se escutam são movidos pela maldade, pela mágoa, pela revolta que transportam consigo, não conseguem viver e, pior, sobreviver, sem atormentarem os outros. São pessoas que vêem maldade nos outros. Vêem maldade nas acções dos outros, nas palavras dos outros. Não são capazes de entender que o que elas vêem é só e exclusivamente um espelho do seu próprio mundo. Porque estas pessoas não conseguem ser livres. Não conseguem lutar pela sua felicidade. Não. Vivem fechadas em salas de espelhos, com labirintos onde a saída é difícil de ser encontrada. Em cada espelho, vêem-se a si mesmas, e julgam, na sua ignorância, que estão a ver os outros. São pessoas que não são capazes de ter uma vida que as preencha, mas são capazes de tentarem apoderar-se da vida dos outros. Porque é disso que se trata. Tentam a todo o custo apoderar-se das vidas alheias, das histórias felizes, dos momentos, das provações alheias, para que elas próprias não se sintam totalmente, irremediavelmente, vazias. Ocas. Donas de uma vida sem sentido. São pessoas que não suportam que a única coisa diferente que lhes tenha acontecido nos seus últimos dias tenha sido mudarem a hora de saída das suas casas, ou o lugar dos talheres que colocam numa mesa. Não suportam, ainda mais, saber que na vida delas seja assim e nas vidas alheias os outros encontrem o amor das suas vidas, mudem para um emprego melhor, façam a viagem dos seus sonhos, tenham filhos, casem, sejam, no fundo, felizes. Estas pessoas não suportam saber de todos esses pequenos e grandes momentos que compõem a vida dos outros, porque se sentem como leitores de um livro do qual elas queriam fazer parte. Como não fazem parte dessas vidas, a única forma que têm de viverem com isso é tentando destruir a felicidade existente nessas vidas. Até que chega o dia em que se apercebem de que não conseguem. De que aquelas vidas são tão preenchidas, são tão cheias de momentos, de sorrisos, de confiança, que elas não conseguem destruir verdadeiramente aquela felicidade. E então o que é que estas pessoas fazem? Estas pessoas não se limitam a fazer o que fazemos quando deixamos de gostar por algum motivo de um livro que lemos. Estas pessoas não colocam o livro de parte. Não põem de parte aquela vida. Não. Porque isso poderia por ventura fazer com os seus batimentos cardíacos, movidos pela maldade, parassem. Assim, para que os seus corações, mesmo doentes, continuem a bater, estas pessoas preferem acreditar que aquelas vidas não passam de fantasias, de utopias, criadas pelos outros. Ou de exageros. Ou de repetições. De divagações constantes. Porquê? Porque estas pessoas não conseguem aceitar que nas suas vidas nada de especial aconteça. Não conseguem aceitar que os outros tenham tanto para viver. Não conseguem sobretudo aceitar que os outros se sintam abençoados pelas vidas que têm, mesmo que essas vidas sejam vidas reais, com dias bons e com dias maus. Não conseguem aceitar chegarem ao fim de cada dia e verem um calendário vazio, onde nada muda. Onde os dias se repetem, vazios, doentes, iguais, como os batimentos dos seus corações.
Da minha querida Miss Daisy, no seu Dias Im[perfeitos]
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