Se há estação de televisão que tem reportagens decentes é a Sic. Mas ontem fiquei profundamente desiludida. A reportagem, seguida de debate, era sobre uma criança, a Safira, a quem tinha sido diagnosticado um tumor de wilms - um dos tumores malignos renais mais frequentes da infância - e a quem os médicos do IPO tinham indicado uma terapia de 27 sessões de quimioterapia pós operação para a sua cura, terapia esta que os pais recusaram, preferindo outra terapia no estrangeiro.
E o que me indignou não foi propriamente a opção dos pais, foi toda a reportagem ter sido dirigida dando a ideia de que as terapias mais comuns - quimioterapia e radioterapia- não são assim tão eficazes e se calhar o melhor é mesmo ir procurar outras alternativas que aquelas não interessam, e que, de certa forma, são prescritas pelos médicos quase como castigo ou porque é divertido fazer sofrer as criancinhas. O que fica da reportagem e que aliás se pode verificar nos comentários da página da Grande Reportagem no Facebook, é uma visão absolutamente maniqueísta de tudo - os pais são os bons da fita e os médicos do IPO são os maus, os causadores de toda a desgraça no mundo.
Indignou-me sobretudo por saber que as pessoas, sobretudo os pais de crianças que estão neste momento a vivenciar toda a experiência dolorosa que é ter um filho com uma doença oncológica, depois desta reportagem, irão questionar tudo aquilo e irão pôr em causa todos os pareceres médicos que chegarem do IPO. É certo que é bom ouvir sempre várias opiniões, mas, caramba, estas opções dos médicos são baseadas em estatísticas, em dados concretos de sucesso. Será que isto não vai custar alguma vida? Será que muitos pais não vão procurar outras terapias, não tão eficazes, para fugirem às quimioterapias e às radioterapias, baseados no caso desta menina (que é apresentado como um caso de sucesso, apesar de ainda só terem passados 16 meses desde o diagnóstico, o que não impossibilita o aparecimento de recidivas)? Eu, que confio a cem por cento nos médicos do IPO, tenho algumas dúvidas.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment