Eu evito ao máximo falar aqui da minha profissão, por achar que não devo misturar as coisas. Há uns anos falava mais e é verdade que raramente achei que valia a pena fazê-lo. Porque para a sociedade em geral, os professores são seres que estão sempre de férias. Ganham bem e saem cedo. Não fazem rigorosamente nada. Só sabem queixar-se, apesar de terem uma vida para cima de espetacular. Tudo isto é agravado se formos professores das escolas públicas. Oh meu Deus, não fazem nada, os alunos não aprendem nada e a culpa é deles, seres inúteis. E depois sai o ranking a "comprovar" isso, as escolas privadas sempre em primeiro lugar. Como se fosse possível fazer-se um ranking de uma coisa que não parte em igualdade,que não trabalha em igualdade, já para não dizer que os alunos não são uma mercadoria que trabalhada dá sempre o mesmo resultado. Mas isso são contas de outro rosário.
Sou professora na escola pública com muito orgulho há uma eternidade de anos. Nunca me queixei das condições em que trabalhava. De vez em quando era capaz de me queixar do frio no inverno e de os alunos terem de trabalhar de casaco vestido ou de mal conseguirem pegar no lápis com as mãos geladas, ou do insuportável calor que transforma as salas de aula em saunas no verão. Mas no fim tudo, tudo isso é insignificante. Deem-me alunos com vontade de aprender, dêem-me uma sala de aula, deem-me uma fotocopiadora, deem-me um computador com acesso à net e com uma impressora a funcionar, sem ter de andar a comprar tinteiros do meu bolso, e eu sou uma professora feliz. Sou uma profissional feliz. A verdade é que ultimamente apenas tenho alunos e uma sala de aula para trabalhar. As impressoras da escola avariaram, foram avariando umas atrás das outras, e ninguém competente para resolver apareceu. A ligação à internet foi-se lentamente até desaparecer totalmente. E a gota de água final, foi a fotocopiadora, que avariou e não se vê miragem de alguém para a arranjar ou para dar uma nova. Mas como é possível uma escola funcionar sem uma fotocopiadora? Pois, não sei. Já não falo das turmas que podem ir até 30 alunos (para contrastar com as dos colégios privados que muitas vezes nem passam dos 15, ai o ranking e tal). Já não falo da papelada que nos obrigam a preencher por tudo e por nada e que na prática não dá qualquer tipo de resultados. Já não falo de outras coisas mais. Apenas destas coisas básicas sem as quais, nos dias de hoje, um professor não pode passar para preparar as suas aulas.
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