E chegou a hora de revelar o vencedor do concurso
Monday 23 November 2009
Marion Cotillard
Em primeiro lugar, agradeço do fundo do coração todos os textos lindos que me enviaram. Ainda não tive tempo de agradecer um a um (e desculpem-me também, as pessoas que me têm enviado outros e-mails, por não vos ter respondido, shame on me) mas vou fazê-lo em breve. Para além do texto vencedor que vai receber o kit-amor-é-um-lugar-estranho, os meus favoritos irão aqui ser publicados semanalmente e sem qualquer ordem de preferência numa rubrica à qual chamarei: "O Amor é um Lugar Estranho - Pelos Leitores".
E o texto vencedor é, tcharan:
O AMOR É UM LUGAR ESTRANHO
Uma sala com quatro paredes, mais ou menos como na canção. Não tinha tecto, não tinha nada. A mensagem dizia “ou sais daí, mesmo que em pijama, ou eu começo a buzinar até alguém chamar a polícia”. Mas como queres tu que saia? Parece que foi ontem. Parece que foi ontem que depois de mais de 300Km te vi na areia, nos braços dela. E eu, míope assumida, reconheci-te ainda do paredão porque, na verdade, tu sabes que eu sempre soube. A incomensurável verdade, meu amor, é que tu nunca foste meu.
Será que ainda lembras o dia em que cheguei a casa num mar de lágrimas, o dia em que morreu o miúdo de três anos por quem eu estava completamente apaixonada? Talvez não lembres… Afinal… São todos os dias assim. Eu grito, choro, não aceito a injustiça. E decido que é desta que vou mudar de emprego e de vida ou, pelo menos, fugir daquela pediatria oncológica que me esmaga. Há lugares que matam a gente, e eu sinto-me a morrer... Cada dia um bocadinho mais. Tu dizias que um dia ia acostumar-me, acho que era essa a palavra. Mas hoje, meu amor, foi um dia igual. Tinha 6 anos. Chamava-se Carlota. E eu nunca me vou acostumar à ideia do vazio que fica na terra sempre que o céu decide levar mais uma estrelinha.
Desde o dia em que vi, em que te vi com ela, tenho insónias. Eu que mal chegava à cama ficava a dormir. Já viste o que as coisas mudam? E ainda consigo ver os reflexos do teu cabelo no momento em que estendi a toalha ao vosso lado e fiquei assim, a menos de um metro do lugar onde há segundos a beijavas, com o ar mais sereno do mundo, como se eu não fizesse parte daquela história.
Tu foste embora e eu tenho tanto para te dizer. Queria contar-te que tenho uma prima nova. A Vitória. Aquela miúda enorme que costumava proteger o João na escola, aquela miúda de 16 anos que tem desenhadas na face as marcas dos pregos cravados na tábua com que era espancada diariamente, antes de ser retirada à família. E ela, a minha tia, já tinha dois filhos com paralisia cerebral. E quem tem dois também tem três. Não importa se com 16 meses ou 16 anos.
….
É o teu último aviso: “tens um minuto até começar a apitar, não estou a brincar”. Levanto-me a custo, visto um camisolão por cima do pijama, já nem tenho tempo para mudar as pantufas. A buzina começa a soar e eu corro. Na rua está frio. Olho para ti e digo “leva-me”. Entro no carro e tu, sem saber como, trazes-me para o sítio mais bonito e desconhecido do mundo. Já me tinham dito que o Alentejo era assim. Não dizes palavra e eu sei que enquanto me quiseres eu estarei aqui para te querer. Sorris, os teus olhos perscrutam fundo a minha alma, procuras-me. Perguntas pelos meus meninos. Perguntas pela Vitória.
Tu conheces-me. E é por isso que sabes que, amanhã, me vou fardar e chegar ao serviço com vontade de lutar e vencer com eles, do lado de cá, dos que ficam. Porque a história dos meninos com cancro também é feita de conquistas e alegrias. É por isso que a Vitória, com mil e uma limitações, tem nome de rainha e tamanho de um milagre. É por isso, meu amor, que te vou seguir sempre, até ao fim do mundo. Há tantos tipos de amor. Tão condensados, tão dispersos, tão calmos, tão revoltos, tão apaixonados, tão desinteressados, tão paternais. Há amores doces e salgados, há amores que não se explicam. Em comum?
Conheces algum amor que não seja um lugar estranho?
Da autoria da Babi
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