Palavras que poderiam ser minhas ou de como vale tudo para encher os bolsos
Thursday 17 May 2012
Face a anúncios destes tão repugnantes, que usam a chantagem emocional e um chorrilho de falsidades científicas, a minha opinião é esta.
(...) é trivial lembrar que o negócio do armazenamento de células do cordão umbilical aposta na publicidade enganosa. Essas empresas omitem a baixa probabilidade de as células virem a ser utilizadas, não têm provas de competência (dos mais de 50 000 clientes da empresa líder em Portugal, apenas um terá beneficiado do serviço), nada dizem sobre a possibilidade de as células armazenadas não serem suficientes nos transplantes em adultos e não explicam que, se para a vasta maioria das doenças com que assustam grávidas, o defeito é genético e, por isso, as células milagrosas não seriam as da desafortunada criança que vai nascer, mas as de um seu irmão, então o mais certo é o irmão estar vivo e poder dar de graça as células da sua medula óssea. Dito isto, não dormiria se não acrescentasse que se aposta hoje muito nas propriedades das células do cordão umbilical, tanto para os transplantes clássicos como para a empolgante medicina regenerativa, pelo que não há charlatão capaz de tornar estúpido o impulso de congelar essas células. Daí que, para os mais privilegiados, não vale tentar fazer passar por mera decisão de investimento o que, na verdade, é um dilema moral: devo comprar a exclusividade de usar estas células ou doá-las ao Lusocord, sabendo que poderei um dia ter de recorrer às células de um anónimo que as doou? Se para si isto não for um problema, por desconfiar dos serviços públicos, por se estar nas tintas para os outros ou por prometer que, em paralelo, se inscreverá no Registo Português de Dadores de Medula Ósssea, o conselho é óbvio: compre.
Escrito aqui por Vasco Barreto, Investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment