Audrey Hepburn e William Holden em "Sabrina"Da autoria de Kika."Eu andava descrente no amor, em mim, na vida. Ele estava a descobrir que há caminhos na vida que não nos levam a bom porto e queria mudar, só não sabia onde. Numa noite fria demais para Agosto, no meu local preferido onde ele estava pela primeira vez, vimo-nos. Seria cliché dizer que quando o vi foi como se não houvesse mais ninguém à volta? É que eu não acredito em clichés.
Namorámos à distância durante uns meses, porque o sítio onde nos conhecemos era precisamente a meio caminho entre as nossas casas. Se o amor à distância resulta? Eu não acredito.
Sem nada, só com vontade de sermos felizes, resolvemos virar a vida do avesso e mudei-me para um verdadeiro lugar estranho, quase tão estranho como o amor que lá me levou. Eu, que sempre disse que nunca sairia de Lisboa.
Devagar, entre cabeçadas e pontapés em pedras, vivendo e aprendendo, lá me vou habituando ao meu (nosso) lugar estranho, em que tenho que acreditar em mim porque há alguém que o faça, porque há alguém que é capaz de virar o mundo ao contrário para me fazer sorrir, porque nunca mais me senti sozinha. Triste? Algumas vezes, nos dias maus. Mas até nesses, nos dias de gritos e choro, sei que ele vai ouvir os meus impropérios, respirar fundo e passar-me a mão no cabelo.
Entre viagens a sítios românticos como Paris e Veneza, foi na nossa casa num dia em que estava doente que ele decidiu declarar-se e, de joelhos e com um anel, me pedir em casamento. Porque o amor é isso mesmo, disse ele. Momentos estranhos, momentos maus, em que o que importa é estarmos juntos e termos quem cuide de nós. Hoje sou eu que estou doente e ele foi à rua, comprar-me pastilhas para a garganta.
Se o nosso amor é perfeito? Um não redondo, que dou tantas vezes comigo a pensar no porquê de me ter rendido a algo que ninguém percebe, de ter decidido partilhar o meu espaço com outra pessoa, quando a relação entre duas pessoas é uma coisa tão complexa. Mas depois olho para nós, para o caminho que percorremos os dois, a nível pessoal e profissional, que tantas vezes se deveu à força que demos um ao outro. E olho para tudo o que temos pela frente, tantos sonhos e vontades e a grande paixão que nos une.
Daqui a menos de um ano, vamos voltar ao ponto onde começámos e vamos casar. Vamos festejar este amor, que é um lugar estranho que chegou sem avisar, que nos fez por em causa as nossas certezas de sempre, que nos mudou como da noite para o dia e que nos mostrou que tudo é possível. E ele, que não queria casar."