Assim se dividem, aparentemente, os bourgeois et bohemians do século XXI: há os que gostam de sushi e os que não gostam dele. Os que gostam podem respirar de alívio: terão o seu lugar no Paraíso. Os que não gostam estão em apuros. Se conseguem forjar uma pose sobranceira, de quem já provou mas entretanto descobriu melhor, ainda têm uma oportunidade: basta explicarem-nos que coisa melhor é essa, afinal. Se não gostam porque não conseguiram comer o peixe cru – ou, pior ainda, porque simplesmente não apreciaram a iguaria – mais vale mudarem-se já para a província, que ainda há muitas vagas para mecânicos e empregadinhas de café por preencher.E, no entanto, nunca vejo alguém a comer sushi. Vou com frequência a restaurantes japoneses – e em nenhum deles vejo os meus estilosos vizinhos a fazer outra coisa que não depenicar. Entram em magotes, aos quatro e aos seis e aos oito de cada vez, pedem três ou quatro pratos para partilhar – e depois ali andam, esfaimados, engonhando num só maki, dividindo nigiris a meio, ansiosos por que aquilo acabe depressa para poderem voltar para casa e atacar os restos dos almoço. Mas já fizeram o seu papel: viram e foram vistos a comer sushi.
Joel Neto em Joel Neto.Com
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