Já chega de tanta felicidade forçada, tanto pensamento positivo obrigatório e tanto livro de auto-ajuda!
Monday 1 February 2010
Mischa Barton
Parece que, de repente, somos todos obrigados a ser felizes. Temos de ter o marido melhor, que nos faz as melhores surpresas, os filhos mais inteligentes, os carros mais potentes, as casas mais deslumbrantes. Depois é só gritar ao mundo o quão se é feliz, o quão se quer ser feliz ou o quão se tem tudo para ser feliz, e a vida, como que por magia, começa a correr bem, porque nós queremos. Mesmo que haja problemas que nos aborreçam e que nos deixem à beira de um ataque de nervos, mesmo se nos sentirmos a pessoa mais infeliz do mundo, mesmo que a nossa vontade seja apenas a de chorar desalmadamente, devemos sorrir, muito, e gritar ao mundo que somos felizes, pois só assim tudo se resolve, dizem os sábios da felicidade. As pessoas com doenças graves, não podem ter um momento de fraqueza, vai logo o mundo cair-lhes em cima e dizer-lhes que assim não se vão curar, porque se vão deixar vencer pela doença.
Barbara Ehrenreich, teve a coragem de escrever um livro - Bright-sided: How the Relentless Promotion of Positive Thinking Has Undermined America - que vai contra esta onda do pensamento positivo que invadiu todo o mundo. Teve um cancro de mama há nove anos e ficou chocada com o constante optimismo que era obrigada a ter, quando, no fundo, estava indignada pelo que lhe tinha acontecido - porquê a ela? - pelos tratamentos a que se tinha de sujeitar, mas, diziam-lhe, só o pensamento positivo a curaria. Já não lhe bastava o fardo da doença, ainda tinha de suportar o fardo da atitude positiva, do pensamento positivo, da felicidade, do ter de ver a doença como uma bênção, blá, blá..
O ver o lado bom da vida é óptimo, ajuda muito, levamos uma vida melhor, sem dúvida, mas não resolve todos os nossos problemas. E hoje em dia, com esse exagero de livros de auto-ajuda, parece que isso basta para solucionar tudo. Parece que acreditanto, tudo se consegue. É muito importante ver o lado bom da vida, mas o mau também. Aliás, a vida não são só rosas como nos querem fazer crer e temos de estar preparados para os espinhos, devendo recebê-los sem ilusões, não esperando que o sorriso estampado na cara resolva tudo. Ajuda, mas não é a chave de tudo.
(Post escrito após ter lido a entrevista da senhora na revista Sábado.)
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