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A minha memória já teve melhores dias

Monday 22 June 2009


Penelope Cruz

Sempre tive uma excelente memória. No entanto, talvez devido à idade (que exagero) e a três anestesias gerais, a minha memória já não é a mesma. Não é que esteja mal. Não. Mas não está como antes. Dou por mim a esquecer-me de coisas básicas. De coisas que disse. De coisas que tinha combinado com alguma antecedência. Enfim. Coisas que não têm uma importância crucial. Mas que têm alguma importância. O mais ridículo é que muitas dessas coisas são mesmo apagadas da minha memória (quer da memória de curto prazo, quer da de longo prazo). Desaparecem mesmo. Não deixam rasto sequer. Outras, quando começo a tentar recordar-me e as pessoas me dizem - então não te lembras, disseste isto e aquilo - aparecem.

Há tempos conversava com um conhecido meu. E ele dizia-me que eu muitas vezes dizia coisas que depois não cumpria. Dizia que eu, por vezes, combinava coisas com ele, do género - olha no mês que vem vai haver uma exposição não sei onde, podemos ir. depois combinamos - e mais tarde quando voltava a falar com ele já tinha ido à exposição, mas com outra pessoa ou até sozinha. Eu achei aquilo muito estranho. Eu não me lembrava de nada disso. Aliás detesto pessoas que têm esse tipo de atitudes. Quando combino alguma coisa com alguém, é porque tenho mesmo vontade de fazer isso. Não digo as coisas por dizer.

Mas ele insistia que sim e disse que até me podia provar, pois tinha um histórico das conversas do messenger. Hã? O quê? Mas quem é que se lembra de ter um histórico das conversas?Quem? Eu fiquei parvinha da vida, claro. Sabia que isso existia. Mas sempre achei que era uma coisa que não lembrava nem ao Menino Jesus.

E eis que chego a casa, ligo o messenger e lá estava ele com as ditas conversas preparadas para me atirar à cara. Conversas de há dois ou três meses. Conversas parvas. Conversas interessantes. Conversas desinteressantes. Tudo. E lá estavam as ditas conversas com os meus supostos convites. Claro que tive de dar a mão à palmatória. Claro que tive de culpar a minha memória. É ela a culpada.

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